terça-feira, 23 de outubro de 2012

interpretação de suicídio - dedicado à ana cristina cesar


    • oitavo andar

      agora os frascos
      ocupam seus lugares
      na gaveta de poesia

                entre
      papéis        amarelos
      (incuráveis)
      deixo minha dor
      palidamente escondida
      sob o rouge
      espreito o real
      com cismas inverossímeis

      na estante da minha alma
      nada mais cabe

      fotografias livros desejos
      cartões-postais intimidades
      fingimentos rescunhos discos
      (...)

      nada mais cabe
      no quarto no poema no peito


      tudo que vejo agora
      se resume ao parapeito
      vertigens amalgamadas à imagens
      uma janela ampla e clara
      e um convite delicado
      de ser borboleta
      no ápice da leveza

      metamorfosear a vida como um diário