quinta-feira, 21 de novembro de 2013

marginais que somos
comemos pelas beiradas
o pão que o diabo amassa
do trigo que nós plantamos
nosso trabalho é salgado
e a vida respinga cansada
descansamos à sombra eterna
da grande injustiça de um deus

segunda-feira, 15 de julho de 2013

dura a vida
só quebra
no dente

dura a vida
enquanto der

eternamente
o amor esse mar
onde viver é perecer
afogado no riso

naufragar é preciso



adeus

farelos de pão
na mesa fria
e o teu olhar
de neblina
a cada manhã
que eu digo
já vou

no amor
toda calma é trégua
da guerra
que se faz

essa noite
não vou mais
dormir em paz

domingo, 28 de abril de 2013

surreal


devaneio
método de intuir
aquilo que
realmente há
por trás
da máscara
surreal
que a vida
insiste em usar

fenda e fresta
quem é você
quando acaba a
festa

as cartas que não escrevi


domingo
penso em escrever cartas
para deixar
saudades
no envelope
da distância

é pena
que amanhece
segunda-feira
e a saudade
correspondência
vai esperar
a semana inteira

desanuviar


as nuvens
serão a fumaça
dos infinitos cigarros
que deus apaga
na sua eterna
solidão?

como se fazendo assim
pudesse preencher
os minutos intermináveis
multiplicados em
cinza melancolia

suponho
e imito deus nesse rito
de espera

na cozinha muda
faço nuvens
com o tempo
que me sobra

quadrinha só


essa noite
o meu olhar
se fundiu
com a lua

a minha vida
por muito tempo
confundiu-se
com a sua

mergulhador


a dor escurece
o mundo
a dor cava
o poço mais fundo
a dor oceano
onde cegamente
afundo

segunda-feira, 15 de abril de 2013

três



monólogo de dois
eu tudo agora
você nada depois



primavera de maio
ou você muda tudo
ou eu saio




se cada homem é uma ilha
eu só
exílio



entre a vida e a morte
um risco
qualquer poesia é sorte



toda a espiritualidade cabe num arma(zen)
amontoada no sótão
poeira e papéis



depois da janela - a vida
um jardim de lírios
delírio e lira



suicídio inevitável
todos os impulsos
serão cortados

existencialismo

cada alma
redondilha
uma ilha
sem cantos

lá esquina
a poesia
andarilha

e se esquiva.










quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

reminiscências I

reminiscências I

enquanto passa
oblíquo e indiferente
ao trânsito de planetas
e molha os sapatos
na água salgada

há uma sereia de sandálias
descalça na praia
às duas da manhã
(apagando estrelas 
entre os dedos)