quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

poeminha carioca

meu desejo de turista
uma oca bacana em copacabana
pra ficar all the time
espiando as ondas do mar

e de vez em nunca
quando urgente for
faço uma visita praquele
que do alto tudo consente

Senhor Cristo Redentor
tenha piedade das garotas ipanêmicas
criando sozinhas
suas crianças anêmicas

e não deixe esquecidos
os filhos de vinícius
nem falte o pão
de todos seus vícios

amém.

poética do papel

agora que sou tinta e papel
o poema um eco
 sem lógica

queima o verso
reverso de mim
onde cigarros queimam

a fumaça embaça
desembaraça a dor
e passa

escorre a tinta
da extinta lágrima
e seca

algumas palavras não têm ecologia.





terça-feira, 23 de outubro de 2012

interpretação de suicídio - dedicado à ana cristina cesar


    • oitavo andar

      agora os frascos
      ocupam seus lugares
      na gaveta de poesia

                entre
      papéis        amarelos
      (incuráveis)
      deixo minha dor
      palidamente escondida
      sob o rouge
      espreito o real
      com cismas inverossímeis

      na estante da minha alma
      nada mais cabe

      fotografias livros desejos
      cartões-postais intimidades
      fingimentos rescunhos discos
      (...)

      nada mais cabe
      no quarto no poema no peito


      tudo que vejo agora
      se resume ao parapeito
      vertigens amalgamadas à imagens
      uma janela ampla e clara
      e um convite delicado
      de ser borboleta
      no ápice da leveza

      metamorfosear a vida como um diário

terça-feira, 11 de setembro de 2012

poema sem nome

o que não importa
é aquele não dito
ao fechar a porta
que espeta o peito
mas não está em pauta
a lágrima secreta
correndo discreta
pela via marginal
do rosto em máscara
o que não importa
aquilo sem importância
corroendo os restos
devolvidos em ânsia
palavra engolida
poesia não lida
ressentimento apagado
no interruptor do quarto





sexta-feira, 31 de agosto de 2012

da minha solidão o tempo é par
quase infinitos envelhecemos
entre eras de silêncios e gritos
e begônias que perfumam o ar




quinta-feira, 28 de junho de 2012

natureza viva

não poupe de sua mão a rosa
ferida aberta que se descolore:
no desbotado jardim das essências
são de pétalas são espinhos
as flores do meu segredo

domingo, 24 de junho de 2012

ânima

as vezes cheia, cem vezes vazia
trago comigo uma alma
animando minha humana poesia

sem vezes

de tal vezes em talvez
vez ou outra sempre outros
nunca é minha sua vez

segunda-feira, 11 de junho de 2012

patologia

guardo meus exageros
num frasco de conta gotas.
adoeço de loucura em doses homeopáticas.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

des-esperar

tecer em fios de esperas o futuro
fiar os dias na agulha fina do amanhã
e na manhã intermitente desfiar o tempo
desfazer em travesseiros a trama do depois



concreções

"seus olhos embotados de cimento e lágrima" (Chico Buarque)

 impenetráveis olhos
de poesia concreta
lágrimas e poeira
misturando-se

significados são muros
de tijolos abstratos

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Para o mestre dos pequenos encantos, Manoel de Barros

já adulto desaprendi
a palavra de Manoel,
casinha de joão-de-barro

sexta-feira, 2 de março de 2012

aniversário

apagando seus velhos eus
soprou suas velinhas
em singelo sinal de adeus

domingo, 26 de fevereiro de 2012

hai cai triste

abismo de rosas
o tempo cavando
saudades silenciosas

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

apagou-se a luz

houve tempo em que na luz
só quem acendia era o cachimbo
não tinha amor não tinha jesus
só almas desamadas lançadas ao limbo
na passarela da cidade
a miséria desfilava sua beleza
quem olhasse sem vaidade
podia contar os ossos da pobreza
então o governador,ilustre senhor
mandou descer o cacete
deu ordem pra varrer a dor
para baixo do tapete
agora o transeunte sempre ausente
que nunca sujou seus pés naquela calçada
pode levar seu desprezo para passear
pela rua vazia no meio da madrugada

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

no meio do caminho tinha uma pedra

cracolândia
porque tem criança
que nunca vai pisar na
disneylândia
dar uma paulada
fazer morada na rua
se você olhar de perto
vai ver São Paulo nua
chama a polícia
manda todo mundo embora
o sol é para todos
a sombra é pra quem pode
pedra pra matar
a dor de ter morrido
a calçada é um lar
mas o abrigo é proibido
não importa o amanhã
querem mesmo é limpar a praça
pra quem tá no fundo do poço
é possível mais desgraça?